Positivismo
Para entendermos outras vertentes do nacionalismo nacional (como o Trabalhismo e Castilhismo) é preciso saber o que foi o movimento positivista.

O movimento positivista brasileiro encontra seu auge a partir da década de 1870, no Rio de Janeiro, capitaneado pela Escola Politécnica e pela Escola Militar (considerada principalmente como uma escola de engenheiros).Como narra um panfleto da época, em grafia positivista: “[...] alguns moços da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, encetaram a leitura do Curso de Filozofia Pozitiva. Preocupados sobretudo com a reação politica da siencia, fartárão ahi o ardor cívico que em vão procuravão cevar em declamações revolucionárias” (BENOIT, 2013, p. 103).
O ano de 1874 é considerado um marco do positivismo no Brasil, com a publicação da obra As três filosofias, de Luís Pereira Barreto, que “continha uma exposição mais ou menos desenvolvida da lei dos três estados” (TORRES, 2018, p. 42). 1874 é também o ano em que Miguel Lemos e Teixeira Mendes tomam contato com as ideias positivistas (ambos serão posteriormente dois dos grandes propagadores das ideias positivistas no Brasil e, inclusive, chefes da igreja positivista brasileira).
Embora possamos pensar no auge das ideias positivistas no Brasil nesta década, a primeira referência ao positivismo é encontrada em 1850, em uma tese de doutorado de Miguel Joaquim Pereira de Sá, sobre os princípios da Estática. No ano seguinte, a concepção positivista aparece em nova tese, agora de Joaquim Manso Alexandre Saião, sobre os princípios fundamentais dos corpos flutuantes. Em 1853 e 1854 mais duas teses são defendidas sobre a influências das ideias positivistas: uma sobre os princípios de cálculo diferencial de Manuel Maria Pinto Peixoto e outra sobre termologia de Augusto Dias Carneiro (TORRES, 2018, p. 39).
Ainda na década de 1870, mais precisamente em 1876, é fundada uma sociedade que seria o embrião do apostolado positivista, tendo como sócios fundadores (que fizeram parte da história do movimento republicado no Brasil): Antonio Carlos de Oliveira Guimarães, Benjamin Constant, Joaquim Ribeiro de Mendonça, Oscar Araújo, Álvaro de Oliveira, Miguel Lemos e Teixeira Mendes. Em 1878 a associação passou a chamar-se Sociedade Positivista do Rio de Janeiro e teve Joaquim Ribeiro como seu primeiro presidente.
No Brasil o positivismo se ramificou em uma vertente ortodoxa, dos seguidores da Religião da Humanidade (inclusive com liturgia) pregada pela doutrina e outra heterodoxa, revestida de algum interesse filosófico e sem chegar às consequências da Religião da Humanidade, representada por pensadores como Luís Pereira Barreto, Pedro Lessa, Alberto Sales e Vicente Cardoso.
A obra de Pereira Barreto constitui de uma importante aplicação do positivismo no estudo do estado brasileiro “por seu sentido científico e pela originalidade de aplicar a lei dos três estados à realidade brasileira, afirmando que o Brasil havia ultrapassado o estado teológico, achava-se no metafísico e caminhava para o positivo” (VITA, 1969, p. 77).
Por outro lado, Miguel Lemos (1854-1919) e Teixeira Mendes (1855-1927) são os maiores representantes do positivismo ortodoxo (como veremos logo adiante), de um positivismo que defende uma religião demonstrável e fundada sob verdades positivas, cuja formulação principal era: “O amor por princípio, a ordem por base, e o progresso por fim” (VITA, 1969, p. 81).

O positivismo foi uma das filosofias orientadoras da República. Como republicanos, Miguel Lemos e Teixeira Mendes estavam seguindo as ideias da filosofia positiva. Segundo o positivismo e, de acordo com a lei dos três estados segundo a qual a marcha da evolução humana passaria da fase religiosa para a metafísica e desta para a científica ou positiva, a República deveria constituir o estado final da evolução política da humanidade. As monarquias representavam o estado teológico baseada no direito divino dos reis. “Se a monarquia era a forma de governo própria do estado teológico, o parlamentarismo liberal-democrático, caracterizava o estado metafísico: o estado positivo ‘pacífico e industrial’ deveria ser republicano e ‘tecnocrata’” (TORRES, 2018, p. 52).A República brasileira, proclamada em 1889, teve uma clara influência positivista (como o grande Floriano Peixoto), como se pode perceber desde o lema da nossa bandeira: ordem e progresso. Lemos e Mendes foram os responsáveis pela idealização da bandeira republicana de inspiração positivista:
A pedido de Rui Barbosa, explicaram assim a frase “Ordem e Progresso”, que nela figura: “nas palavras de Comte: o progresso é o desenvolvimento da ordem, assim como a ordem é a consolidação do progresso, o que significa que não se podem romper subitamente os laços com o passado e que toda reforma, para frutificar, deve tirar seus elementos do próprio estado de coisas a ser modificado” (apud BENOIT, 2013, p. 105)
Mas Lemos e Mendes não foram os principais responsáveis pela influência do positivismo na proclamação da República. Ao contrário, achavam até errado uma revolução feita pelas armas e tiveram várias polêmicas com os republicanos. Foi Benjamin Constant (um positivista dissidente) que, segundo Torres (2018, p. 85), teria influenciado o Marechal Deodoro da Fonseca para que, “contra a sua vontade, depusesse D. Pedro II e instalasse a República”. Benjamin Constant tornou-se republicado pela influência do positivismo. Com a proclamação da República observamos uma reconciliação entre Benjamin Constant e o apostolado positivista do Brasil (na figura de Miguel Lemos).
Parece que foi algo empolgante a cerimônia de reconciliação, que teve lugar no salão nobre do Ministério da Guerra. Além de positivistas, o salão estava cheio de curiosos e cidadãos, informa-nos Miguel Lemos [...] Afinal trocaram abraços e discursos; Benjamim, que talvez não fosse mau político, findou a sua oração dizendo: a República não poderia ter conselheiros mais capazes que os dois jovens cidadãos que se achavam à chefia do apostolado positivista do Brasil (TORRES, 2018, p. 91).
Instaurada a República no Brasil observaremos igualmente o apogeu do positivismo religioso em terras tupiniquins embora o casamento entre o positivismo e a nova república brasileira tenha durado muito pouco: apenas dois meses e meio, como atesta Torres (2018, p. 92-99).
Fonte: Sabedoria Política